DOENÇA DE ALZHEIMER

No dia 21 de setembro é celebrado o Dia Mundial da Doença de Alzheimer. É importante esclarecer sobre a doença com o objetivo principal de orientar sobre a prevenção, causas e tratamentos.

O que causa o Alzheimer? Quais são os fatores de risco da doença? Existem diferentes estágios na progressão da doença?


Mesmo sendo alvo de muito esforço por parte da comunidade científica, a causa exata e o mecanismo da doença, ou seja, sua patogênese permanecem ainda obscuros. O ponto em comum é a sobreprodução associada ou não a redução da depuração das proteínas conhecidas como beta-amilóides. Há também a contribuição da proteína tau, responsável pela formação dos microtúbulos nas células. Devidos a essas, encontramos as alterações neuropatológicas típicas da doença de Alzheimer, são elas: placas neuríticas, depósitos extracelulares de beta amiloide e degeneração neurofibrilar.

O fator de risco mais conhecido e imediatamente associado a doença é a idade avançada. Além deste, há ainda a história familiar positiva para demência e também mutações genéticas em genes relacionados ao amiloide e o alelo épsilon 4 da apolipoproteína E. Esses já citados são os fatores que chamamos de não modificáveis. Há ainda os fatores modificáveis, que são relacionados às doenças cardiovasculares, como hipertensão, obesidade e diabetes.

Existem algumas escalas de aplicação rápida como o Mini-Exame do Estado Mental e a Avaliação Cognitiva de Montreal que pode ser usadas para acompanhar a evolução do declínio cognitivo. Há ainda a escala de classificação de demência clínica que a é inclusive padronizada pela Conitec para fornecimento de medicações pelo SUS. Essa última, conhecida como CDR, avalia a memória, orientação, julgamento e solução de problemas, assuntos na comunidade, lar e passatempo e cuidados pessoais.

Existe alguma forma de prevenir a doença? É verdade que a execução de tarefas mais complexas durante a vida pode retardar ou até mesmo inibir a manifestação da doença? Por que ela é mais comum entre pessoas idosas?

Na verdade o que existem são evidências provenientes de estudos sugerindo que as atividades física e mental são inversamente proporcional ao risco de desenvolvimento da doença de Alzheimer. Logo, isso traz luz a possíveis estratégias de prevenção, da mesma forma que o controle adequado dos fatores de risco acima enumerados como modificáveis. Também já foram encontradas evidências a favor de dieta saudável e aprendizagem ao longo da vida.

A doença é cada vez mais prevalente com o avançar da idade. A incidência dobra a cada 10 anos após os 60 anos, ao ponto de alcançar prevalência de 50% em maiores de 90 anos. Além de aspecto neurodegenerativo, vale observar aqui a concordância entre doença cerebrovascular e doença de Alzheimer. A primeira pode reduzir o limiar para a demência em pacientes com alteração neuropatológicas típicas de Alzheimer.

Como é feito o diagnóstico da doença? De que maneira devo revelar o diagnóstico para o paciente? Quais os primeiros passos no tratamento?


Existem mais de um grupo de critérios diagnósticos para as categorias de Doença de Alzheimer provável e possível. O diagnóstico definitivo é dado apenas pela confirmação anatomopatológica, logo não é factível na prática clínica. Importante aqui é discutir que o diagnóstico deve ser suspeitado em pacientes com declínio das funções cognitivas que aparece e progride insidiosamente e leva a perda de funcionalidade.

O mais característico é o comprometimento da memória, principalmente para eventos recentes. Outras funções logo acometidas são a executiva e as habilidades visuoespaciais. O curso da doença é inexoravelmente progressivo. Entretanto a expectativa de vida pode variar de 3 a 20 anos. O grau de compreensão do paciente sobre a situação é variável. Caso este deseje saber sobre o diagnóstico, a minha posição é informar sempre sobre as categorias diagnósticas de provável e possível e orientar sobre a inviabilidade de diagnóstico definitivo. Dessa forma, definir de forma empática as expectativas e sanar as dúvidas.

O tratamento farmacológico compreende as medicações da classe dos inibidores da colinesterase. As opções disponíveis no mercado são donepezila, galantamina e rivastigmina e, devido a eficácia semelhante, a escolha recai sobre a facilidade de uso, tolerância e custo. A medida que o quadro progride podemos adicionar a memantina ou mantê-la sozinha caso não seja tolerado os citados anteriormente. Já nos quadros avançados, deve ser avaliado individualmente a manutenção da memantina ou até mesmo a retirada das medicações. Além disso, deve sempre ser dada a devida atenção as demandas comportamentais, nutricionais e de conforto ao paciente.

A atividade física pode amenizar sintomas da doença? Como os familiares devem lidar com a progressão da doença?

Na verdade a atividade física tem um papel possível na prevenção. Já nos quadros estabelecidos, realizada de maneira regular com cuidador treinado mostra melhora no funcionamento físico e menos depressão, bem como no controle comportamental. A minha maior orientação a família é que se preparem para um processo longo e algo imprevisível, de evolução inequívoca. E sempre busco reafirmar a fórmula essencial para o cuidado é “carinho e paciência”. Sempre também deixo a disponibilidade qualquer eventual necessidade de avaliação da saúde mental de cuidador.

Pessoas com Alzheimer podem apresentar agressividade e irritabilidade. Por que isso acontece?

Os sintomas comportamentais são muito comuns nos pacientes com demência e causam preocupação em todos os envolvidos. A falta de controle dos sintomas leva a perda de qualidade de vida de paciente e aumento de estresse dos cuidadores. O primeiro passo é entender que a agitação ou agressividade trata-se de um comportamento reativo a algum estímulo, seja de ambiente externo ou interno. Isso ocorre porque devido ao processo demencial, o paciente perde a capacidade de se comunicar efetivamente com a linguagem. Por exemplo, dor, fome, solidão, tristeza, barulho, calor, frio, podem ser os desencadeantes. Há ainda a questão de reforço positivo frente ao comportamento, visto que atenção é dado quando a agitação está presente.

Como você enxerga a possibilidade de haver no futuro a detecção da doença anos antes dos primeiros sintomas? Como esse fato pode ajudar no tratamento?

São muitos anos desde início das alterações bioquímicas no cérebro e o desenvolvimento dos sintomas, período conhecido como pré-sintomático. Alguns estudos já realizados mostraram que uma queda nos níveis de beta amilóide no líquor precedeu o início da doença em 25 anos. Quando usada na medição uma técnica especial de tomografia por emissão de pósitrons, esse tempo foi de 15 anos. Há também preditores relacionados a fosfo-tau no LCR e ressonância magnética (MRI).

Já o comprometimento cognitivo estava presente apenas cinco anos antes. Essas técnicas estão em fase de pesquisa e aperfeiçoamento e ainda deve demorar um tempo até serem implantadas nas rotinas assistenciais. Porém, têm sido alvo de muito interesse, principalmente a medida que se vislumbra um tratamento modificador da doença que deve ser introduzido de forma precoce.

Quais conselhos você daria para pessoas que apresentam histórico na família?

Como vimos acima, história familiar é fator de risco, um parente de primeiro grau confere um risco aumentado de 10 a 30%, com dois ou mais irmãos com Alzheimer de início há um risco três vezes maior que a população geral. Contudo, observem que o risco tendo a ser muito maior quando os parentes desenvolvem a doença prococemente, ou seja antes dos 65 anos. Para ambos os grupos, de parentes com início tardio e início precoce, os conselhos recaem sob as práticas de controle dos fatores de risco modificáveis e adoção das medidas de treinamento cognitivos e físico.

 Para mais informações sobre a doença de Alzheimer e como oferecer qualidade de vida ao portador, assista aos outros vídeos do nosso canal no YouTube Casal Neurologista.

Conte comigo, conhecimento é poder e eu estou aqui para lhe ajudar.

 Por Dr. Emerson de Paula Santos
Neurologista pelo Hospital das Clínicas
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